Ao longo de mais de 35 anos de atividade profissional cuidando de pacientes com paralisia de Bell, diversos destes indivíduos nos chegaram utilizando tratamentos complementares durante a fase aguda da doença.
É importante lembrar que a doença nestes casos ocorre no nervo facial no interior do osso temporal (osso onde nosso ouvido está inserido) e não nos seus ramos da face e muito menos nos músculos face. Somente semanas após o início da paralisia, pode ocorrer alterações degenerativas dos ramos do nervo facial na face e o comprometimento das fibras dos músculos da mímica da face.
Dito isto, soa-me estranho a indicação de tratamentos que procuram atuar na face do paciente durante os primeiros dias da paralisia. A doença não está no rosto, mas sim no nervo e lá distante da face! A paralisia é a consequência da lesão do nervo. Do que adianta então, realizar eletroterapia, laser terapia, acupuntura nos músculos da face ou outras medidas ainda mais controversas logo nas primeiras semanas da doença?
A eletroestimulação dos músculos pode causar contratura muscular e gerar deformidades em grau variado, o que prejudica a recuperação do paciente. Já, a laserterapia possui pouca investigação cientifica sobre sua efetividade e a eficácia do uso sobre a musculatura facial na fase aguda ainda é indefinida. A acupuntura tem sido indicada na fase crônica da doença. Há grande número de estudos divulgados, mas revisões sistemáticas não respaldam fortemente seu uso na fase aguda.
A prioridade, no momento em que a paralisia se instala, é um diagnóstico médico bem estabelecido, o tratamento com medicamentos anti-inflamatórios e anti-virais e o seguimento com exames para avaliar o prognóstico da doença indicados para cada caso.
Coloco como exceção a terapia motora (realizada por fonoaudiólogos e fisioterapeutas) cujo objetivo na fase aguda da paralisia é manter o tônus muscular até que o nervo se reabilite e volte a estimular estes músculos. Com isto, propicia a melhoria para a alimentação, principalmente dos alimentos líquidos, e o fechamento ocular, o que minimiza os transtornos da paralisia.
Mas, mesmo na terapia motora, se realizada de forma errônea, pode agravar a paralisia se há estímulos de músculos inervados pelo n. trigêmeo, como o músculo masseter (mascar chiclete) ou se há estímulo excessivo de atividade motora facial a ponto de provocar contratura muscular. Portanto, o profissional deve estar familiarizado com o tratamento da paralisia facial.
Outros tantos pacientes chegam fazendo uso de complexos vitamínicos (vitaminas B6, B12 e D, entre outras). Investigando a literatura médica, de 3.317 artigos científicos publicados sobre Paralisia de Bell desde a década de 90 nas principais revistas médicas do mundo, menos de 10 artigos apresentam alguma informação sobre os efeitos destas vitaminas na evolução da paralisia. São em sua maioria resultados inconclusivos.
Diante de informações as mais diversas sobre os cuidados da Paralisia de Bell, tenha em mente que o diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento clínico devem ser realizados por uma equipe médica e multidisciplinar habituada e capacitada aos cuidados desta doença.
As informações aqui constantes são meramente informativas e todo individuo que tenha sintomas de paralisia facial deve procurar atendimento médico prontamente.
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